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domingo, 10 de julho de 2011

Avenida Paulista 2014


Fotomontagem: Fujocka / Revista Trip sobre foto de Carlos Goldgrub / Opção Brasil Imagens


* por Paulo Lima

Você tem uma reunião daqui a meia hora na avenida Paulista? Pegue sua bike, ponha o capacete e vá com tudo

Observadores mais capacitados têm dito que este é o maior período de transição que o mundo já viveu. Entende-se por transição um período em que nada mais é como costumava ser, mas ainda não ficou como será. Aliás, talvez nunca mais fique. Pelo menos de alguma forma que remotamente lembre períodos estáveis do passado, em que o estabelecido se mantinha imóvel por algum tempo. Isto posto, vale analisar o que há de bom neste momento maluco em que estamos metidos. Por exemplo, poucas vezes estivemos diante de tantas e tão complexas revisões dos tais paradigmas. Inclusive aqueles vencidos pelo tempo.

Da inversão de papéis na geopolítica e do poder econômico, que insiste em mudar de mãos, até a aceitação de modelos de vida até então inconcebíveis para boa parte do sistema. Discussões efetivas sobre a revisão de legislações sem sentido e anacrônicas que regulavam do uso de substâncias proibidas à sexualidade das pessoas e seus matrimônios, etc...

Assim, este talvez seja também o melhor momento para observar uma revolução silenciosa que vai avançando a passos grandes e penetrando nas grandes cidades de forma consistente.

Leveza, inteligência, economia, sustentabilidade, agilidade, custo baixo, saúde, eficiência, alto nível de socialização, baixíssimo impacto ambiental...

Qualidades cada vez mais perseguidas pelas pessoas de bom-senso, mas que ainda costumam ser associadas por muitos às utopias inalcançáveis, podem estar todas contidas num objeto pequeno e frágil, mas com poderes absolutamente revolucionários.

O que, afinal, há por trás das bicicletas além do lazer e do transporte? Como pessoas e comunidades diferentes têm lidado com esse equipamento? Seria a bicicleta a arma principal dessa revolução suave que vem alterando a maneira de o mundo tratar as ideias de desenvolvimento humano e da evolução possível para os grandes centros urbanos? Não há dúvida de que o assunto merece ser tratado com seriedade e com muita atenção. Se soa ingênuo acreditar que a bicicleta pode ser a panaceia universal, que virá ajustar o planeta e recolocá-lo no eixo, também não parece razoável continuarmos medindo o desenvolvimento de nações pelo número de carros novos que conseguem colocar nas ruas nem seguir construindo cidades para abrigar bolas de aço motorizadas que levam cidadãos de um shopping a outro. A imagem desta coluna, ilustrada pelo artista gráfico Fujocka especialmente para a edição de julho da “Trip” que tratará da bicicleta como uma ferramenta transformadora, tenta imaginar como artérias vitais de uma cidade como São Paulo poderiam ser repensadas para abrigar esses veículos inteligentes e acessíveis em seus espaços. A avenida Paulista, representada acima, ainda simboliza um tempo em que poder era ter casarões, prédios e escritórios suntuosos que inspiravam nos outros a tão sonhada noção de “independência financeira”. A imagem destas páginas projeta um tempo, quiçá próximo, em que a noção de interdependência finalmente se sobreporá a esse conceito cada vez mais superado e ilusório de independência. Um tempo em que pensar em você significará pensar no outro na mesma medida.

* Paulo Lima é fundador da editora e da revista Trip




Fonte: Revista ISTOÉ, 06/07/2011, ano 35, nº 2173, págs. 58 e 59.

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