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segunda-feira, 22 de julho de 2013

Sobre rodovias, vidas e ciclovias


Na semana que passou, em razão da morte do empresário e triatleta Álvaro Vasconcelos Filho, veio à tona novamente a discussão sobre o perigo que a duplicação da rodovia AL-101 Sul, ligando Maceió à Barra de São Miguel, tem provocado aos pedestres e ciclistas que trafegam e/ou precisam atravessar a referida rodovia.

O assunto já vinha sendo discutido entre ciclistas e Governo do Estado antes mesmo da inauguração da rodovia, quando o trânsito já estava liberado em alguns trechos e o perigo já era perceptível. Em 27/03/2012, os ciclistas estiveram reunidos no Gabinete Civil, de onde saiu a necessidade de marcar uma nova reunião, no dia 18/04/2012, que terminou sendo cancelada pelo Governo.

Após a inauguração da duplicação da rodovia, em pleno Dia Mundial Sem Carro, pudemos registrar algumas notícias que foram veiculadas na imprensa com os seguintes fatos:

09/10/2012 - Atropelamento na AL-101 Sul em Massagueira causa revolta

19/10/2012 - Ciclistas morrem atropelados na AL-101 Sul e populares incendeiam carro

13/01/2013 - Automóvel invade acostamento e atropela ciclistas na AL-101 Sul

07/03/2013 - Ciclista morre atropelado em Marechal por carro do Poder Executivo

18/03/2013 - DER estuda ações para dar mais segurança a pedestres e ciclistas na AL-101 Sul

12/07/2013 - Acidente na AL 101 Sul deixa idoso ferido

A morte de Álvaro Vasconcelos Filho na última segunda-feira (15) motivou o próprio governador a reunir-se com ciclistas, no dia seguinte, para discutir o assunto. O assunto também motivou o Secretário de Estado da Infraestrutura, Sr. Marco Fireman, na última sexta-feira (19), a escrever e enviar um texto ao jornalista Ricardo Mota expondo sua opinião a respeito do assunto, o qual transcrevemos abaixo:

“Ricardo, desde o acidente de segunda tenho lido algumas críticas e comentários ao governo e fiz uma reflexão sobre o assunto. Estou enviando caso possa divulgar. Obrigado, Marco Fireman.

Sobre rodovias e ciclovias

O trágico e lamentável acidente ocorrido no último dia 15 na AL-101 Sul provocou uma reação imediata de ciclistas que praticam esportes na região e cobram a construção de uma ciclovia ao longo da rodovia duplicada. Não pretendo aqui falar sobre a necessidade da ciclovia, que é indiscutível, sendo fundamental para ampliar a mobilidade urbana – embora ainda sejam raros os trechos de rodovias brasileiras acompanhados de ciclovias.

Mas proponho uma reflexão sobre o assunto, para que não caiamos em críticas superficiais. Estamos falando de Alagoas, um estado com uma malha viária de cerca de 1.700 quilômetros e que precisaria de pelo menos mais 300 km para atender à demanda de forma satisfatória em todas as regiões. As limitações financeiras do Estado, aliás, já fazem da manutenção da malha existente uma tarefa árdua para o DER.

Em resumo: é pouco dinheiro para muitas demandas de infraestrutura. A mesma escassez de recursos, inclusive, exigiu coragem do governador Teotonio Vilela Filho para tirar do papel a duplicação da rodovia, que teve R$ 160 milhões do Tesouro Estadual em três anos de serviços. Então, eu pergunto: o Governo deveria ter aberto mão de duplicar a AL-101 Sul porque não tinha recursos para construir de forma simultânea a ciclovia? Estou convencido que não.

Infelizmente, na hora de administrar a relação entre dinheiro disponível e demandas existentes é necessário analisar, entre outros aspectos, o número de pessoas que serão impactadas pelas obras. Daí nascem as prioridades. Mas nem de longe isto significa descaso, como disseram alguns.

Pelo contrário. Quando inauguramos a duplicação da AL-101, firmamos o compromisso de construir uma ciclovia no local e vamos cumprir – assim como a construção de passarelas. O projeto, inclusive, já está pronto e o governador já garantiu recursos para a obra. Mas a cobrança por mais esta realização do Estado não pode, nem deve, querer desconstruir uma obra que facilita a vida de milhares de pessoas diariamente.

Em vez disso, é possível e necessário somar esforços e analisar junto à população e ao poder público questões fundamentais para a segurança de motoristas, ciclistas e pedestres. Por exemplo, além da ciclovia, faz falta uma educação de trânsito mais eficiente? Sem esta educação, as ciclovias serão mesmo capazes de evitar acidentes fatais nas estradas?”

 

No último domingo (21), o jornal Gazeta de Alagoas publicou reportagem de capa tratando sobre o perigo que a duplicação da rodovia AL-101 Sul tem trazido aos pedestres, ciclistas e até mesmo condutores de veículos. Há que lembrar que o referido jornal é de propriedade do senador Fernando Collor, possível opositor do governador Teotônio Vilela Filho nas eleições de 2014. Há quem possa dizer que a ênfase dada ao assunto seria uma forma de atingir o atual Governo do Estado. Há quem possa dizer também que a TV Pajuçara, de propriedade do grupo de apoio ao atual governo não estaria dando a mesma ênfase ao assunto para preservar a imagem do governador.

A questão é que, na noite do último sábado (20), quando o jornal de domingo já estava nas bancas sendo vendido, mais um ciclista foi morto na rodovia AL-101 Sul. Conhecido como  Bida, “ainda” não teve tanta cobertura da imprensa como teve o caso da semana passada e também parece que não terá tanta motivação do Governo do Estado para se manifestar sobre o assunto, assim como não tiveram todos os que antecederam o da semana passada.

Em meio ao que parece ser só uma disputa política, onde os meios de comunicação são utilizados para enfatizar ou esconder um problema, qual a importância que têm as vidas das pessoas que estão sendo perdidas naquela rodovia? Será que o benefício que a duplicação da rodovia proporciona está sendo maior que o malefício, como parece sugerir o secretário de infraestrutura? Quem estaria disposto a dar a sua vida para que outros continuem tendo o benefício que a rodovia proporciona? Quanto vale uma vida? Quantas mortes ainda terão que acontecer até que o Governo do Estado trate o assunto com seriedade?
 
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