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segunda-feira, 4 de abril de 2011

O ar que você respira




Quem está disposto a abrir mão do seu carro para respirar um ar mais puro?

Quando falamos em abrir mão, não estamos dizendo que você precisa vender seu carro e passar a andar a pé, de bicicleta e de ônibus para todo lugar. Você até poderia, mas se não quiser fazer uma mudança tão radical na sua vida, faça aos pouquinhos.

Se você não consegue deixar o carro em casa em 100% dos seus deslocamentos, experimente em 40, 60 ou 80. Vá à padaria a pé. Vá à academia de bicicleta. Vá ao trabalho de ônibus. Se não puder fazer todos os dias da semana, escolha alguns dias em que seu trajeto é o simples casa-trabalho-casa, onde não há razão lógica nenhuma para que você não utilize o transporte coletivo.

Espera. Há sim. O transporte público não atende às suas necessidades, não é? O ponto é distante, o abrigo do ponto de ônibus não protege do sol e da chuva, o ônibus demora a passar, demora no trajeto, vai cheio... É. Não há mesmo motivos para trocar o carro pelo ônibus.

Se você tem dinheiro suficiente para ter um carro (ou até dois ou três), azar o de quem não tem, não é? Não. Essa é a forma brasileira de resolver os problemas públicos, cada um resolvendo o seu de forma privada e que se dane o resto... Mas se queremos um país (ou pelo menos uma cidade) melhor de se viver, temos que começar a mudar essa forma de encarar o mundo.




O senso comum acredita que o normal é cada um ter seu plano de saúde, ter seu filho estudando em escola privada e ter seu carro para ir aonde quiser. Acreditam que saúde pública, educação pública e transporte público são migalhas oferecidas aos pobres enquanto eles não conseguem ter dinheiro suficiente para se livrar dos serviços públicos.

Acontece que quando não usamos a saúde ou a educação pública, em tese, sobrariam mais recursos para os que utilizam. Com os transportes acontece o contrário. Cada novo carro que entra em circulação nas ruas da cidade, contribui para congestionar ainda mais o trânsito, prejudicando o serviço de transporte coletivo, que tem horários a cumprir e não pode (pelo menos não deveria) ficar preso nos engarrafamentos.

Os engarrafamentos, a poluição e os “acidentes” de trânsito são algumas das externalidades negativas do automóvel. A sua opção pelo automóvel prejudica a vida de todos aqueles que o cercam. Não seria mais interessante se o motorista fosse obrigado a respirar a própria fumaça que seu carro libera? Mas não pense que você está salvo da poluição trancando-se na sua bolha de metal e vidro refrigerada com ar-condicionado. Segundo especialistas, o ar respirado dentro de um carro em um engarrafamento pode ser até mais nocivo que aquele respirado pelas pessoas nas calçadas.

Nosso clima é quente, tudo bem. Mas será que a forma mais sensata de vivermos em harmonia com o ambiente que nos cerca é estando cada um trancado dentro da bolha com ar-condicionado? Por que aceitamos que as árvores que sombreavam uma calçada sejam cortadas para que a calçada sirva de estacionamento? Aí depois dizemos que não andamos a pé porque o sol está muito forte e as calçadas não são sombreadas.

Você lembra quando os carros possuíam quebra-vento e o vidro do banco traseiro permitia a saída do ar? Hoje em dia, tais elementos nem funcionariam, já que o carro passa a maior parte do tempo parado em engarrafamentos. Alguns motoristas perguntam a nós, que andamos de bicicleta, como aguentamos andar debaixo do sol quente. É simples. Basta se proteger do sol (com protetor solar ou manguitos) e usar roupas leves que permitam a evaporação do suor. O resto, deixa com a brisa, que é constante em Maceió. Como você estará sempre em movimento, ela tratará de lhe refrescar. No começo, pode ser que você canse um pouco por estar saindo do sedentarismo, mas depois de um tempo vai ser moleza.

Mas se você não curte bicicleta, não tem problema. Você ainda tem a opção das pernas e do transporte coletivo. O que você pode fazer para melhorar o transporte coletivo? Use sua força política para cobrar melhorias por parte do poder público, por exemplo com a implantação de corredores exclusivos para que os ônibus possam cumprir seus horários sem ficar presos nos congestionamentos.






Não aceite as soluções que costumam ser apresentadas pela Prefeitura, como o alargamento de vias e a construção de viadutos. Essas soluções não resolvem o problema e apenas estimulam que mais carros sejam colocados na rua, ajudando a congestionar novamente o trânsito.



Essas soluções são interessantes apenas para as empreiteiras que financiam as campanhas políticas e buscam, nessas obras, seu retorno financeiro. E fazem você acreditar, como um bobo, que viadutos e ruas lotadas de automóveis são sinônimos de progresso.



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