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quinta-feira, 17 de junho de 2010

Ideias equivocadas

Para entender um pouco melhor as razões dos congestionamentos...

Se você perguntar, a qualquer motorista, o que precisa ser feito para reduzir os congestionamentos da cidade, ele dará duas respostas básicas: "construir viadutos" e/ou "alargar as vias". Outros ainda dirão que é preciso "abrir mais vias", mesmo que não saibamos exatamente o que isso representa na prática.

Essa é uma ideia que vem da Era JK, quando foi implantada a indústria automotiva no Brasil e quando estava em voga o urbanismo modernista. Nessa época, foi construída Brasília, o protótipo da cidade feita exclusivamente para motoristas. É muito comum ouvir dizer que não se vive em Brasília se não tiver um carro. Desde então, as cidades brasileiras buscaram seguir o modelo de urbanismo de Brasília (famosa por ser uma cidade planejada), buscando oferecer melhor infraestrutura para a circulação de automóveis, sendo deixados de lado os pedestres, ciclistas e o transporte coletivo.


Àquela época, acreditava-se que, no futuro, cada cidadão teria seu próprio carro para se deslocar. Hoje, com a estabilização da moeda brasileira e os prazos mais longos para financiamentos, a frota de automóveis tem aumentado e temos visto nossas cidades travadas pelo excesso de carros. Como solução, paliativos são apresentados com o único objetivo de “dar fluidez ao trânsito (de automóveis)”.

Construção de viadutos

Entre esses paliativos está a construção de viadutos. Em analogia com o corpo humano, o viaduto pode ser comparado a uma cirurgia de Ponte de Safena, onde as veias e artérias seriam as ruas e os carros seriam o colesterol. Se uma pessoa que se submeteu a uma cirurgia desse tipo não mudar seus hábitos, muito em breve sofrerá problemas cardíacos novamente. É o que está acontecendo com as cidades brasileiras. Não adianta construir um viaduto em cada esquina da cidade. Se continuarmos andando de carro, com o constante aumento da frota, muito em breve o próprio viaduto estará congestionado.


Alargamento de vias

Os motoristas acreditam também que se forem acrescentadas mais faixas de circulação a uma via que está congestionada, o trânsito irá melhorar. De fato, pode até melhorar por um curto período. Mas como a frota de automóveis está crescendo, muito em breve, aquela nova faixa acrescentada também estará congestionada. Quanto mais facilidades dermos ao trânsito de automóveis, mais automóveis haverá na cidade.



Trata-se de uma questão matemática: um ônibus consegue transportar cerca de 40 pessoas sentadas e mais 40 de pé. Consegue fazer isso ocupando o espaço de 2 ou 3 carros. Caso as pessoas que estão no ônibus consigam ter dinheiro suficiente para comprar e manter um carro, lotarão as ruas com mais 40 a 80 carros, já que, na maioria das vezes, os carros são ocupados apenas pelo motorista.


A construção de corredores exclusivos para ônibus (evitando que fiquem presos em congestionamentos) e o estímulo a outros meios de transporte, como a bicicleta, poderiam tirar das ruas uma grande quantidade de carros.

Abertura de novas vias


Também é comum ouvir dos motoristas que a abertura de novas vias viria a melhorar o trânsito. A Prefeitura de Maceió tem criado novas vias no sentido Leste-Oeste, o que facilita a macro-acessibilidade na cidade, sendo algo benéfico, desde que não trouxesse danos ambientais com os aterros de vales que temos visto nessas obras.

Uma obra que tem sido apresentada como sinônimo de “progresso” é a construção da Via Norte. Segundo a Prefeitura de Maceió, a construção dessa via irá facilitar a ligação entre os bairros do Benedito Bentes e Jacarecica. De fato poderia até facilitar, caso este fosse um desejo de viagem dos moradores dos dois bairros. Mas a intenção intrínseca não é essa. O que se pensa é: "já congestionamos a Fernandes Lima; já congestionamos a Menino Marcelo; vamos construir mais uma via!... quando esta estiver também congestionada, construímos outras... o que importa é fazer obra! O povo gosta de obra (e precisamos honrar os acordos feitos com as empreiteiras durante o período eleitoral)!"


Há um efeito colateral nessa construção de vias que contornam a cidade ou que atravessam a zona rural do município. Elas vão de encontro ao que busca o Estatuto da Cidade, que pretende controlar o crescimento do perímetro urbano, de modo que haja um menor gasto dos recursos públicos para oferecer infraestrutura a populações que vão morar cada vez mais distante. A construção de uma via externa ao perímetro urbano induzirá o crescimento da cidade naquela direção, fazendo com que a cidade se expanda horizontalmente, causando o que os urbanistas chamam de “espraiamento urbano”. Os únicos beneficiados com o espraiamento urbano são os especuladores imobiliários, que não são bobos e têm fortes laços com a Prefeitura.




Apenas para rir ou chorar, vale lembrar alguns absurdos que são divagados por nossos representantes vereadores, como a construção de uma via sobre a lagoa Mundaú, com o intuito de desafogar [sic] o trânsito na Av. Fernandes Lima, tema bastante debatido na sessão da Câmara Municipal de Maceió, do dia 24/02/2010.

2 comentários:

Anônimo disse...

É pra rir ou pra chorar ??????????????

Anônimo disse...

Acho que nessa câmara está faltando gente que entenda de cidade e de planejamento urbano para vetar os absurdos e aprovar o que realmente interessa para a população de Maceió.

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