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quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Liberte-se do vício


Loucos por carro

“Troque seu sonho de consumo pela cidade dos sonhos”. Esta e outras frases de efeito tem circulado nos blogs, rede sociais, canais internacionais, com a aproximação do dia 22 de setembro, dia mundial sem carro. Movimento que nasceu na França, em 1998, e chegou ao Brasil em 2001. Hoje conta com a participação de várias cidades.

Não sou do tipo adepta aos dias, não comemoro as datas comerciais e confesso que tenho alguma dificuldade com as festas religiosas. Mas desta vez resolvi me juntar ao coro “livre-se do carro”, até porque tenho muito a comemorar: meu primeiro ano de vida sem carro, desde os dezoito. Livre das emissões e dos congestionamentos.

Não, não me isolei da civilização para viver reclusa no alto da montanha do Tibet, nem optei pelo perfil andarilho de Bashô ou Forest Gump, embora desejasse. Moro em São Paulo e há um ano levei ao extremo minha reflexão sobre o transporte individual nas grandes cidades, aproveitei a chance dada pelo ladrão para me libertar de mais este vício. Sim, andar de carro é um vício!

Saiba, é difícil! Nos primeiros dias suas mãos tremem buscando as chaves, seu corpo implora pelo conforto do banco sobre as rodas e você pode pensar que não vai sobreviver. “A verdade é que você consegue e depois se acostuma!”, me disse um amigo alguns meses mais tarde.

Incrível que pude somar à minha vida diversas experiências bem-sucedidas de liberdade em relatos semelhantes a este. Sim, liberdade de ir e vir, bastante diferente do pânico propiciado pelos congestionamentos intermináveis. Peça um habeas corpus! Junte-se a nós, os sem-carro.

Francamente, fico feliz que haja espaço para a reflexão a respeito dos meios de transporte e que este movimento se fortaleça o suficiente para mover a máquina estatal, enferrujada, emperrada, empenada, num sentido que faça sentido. Não acredito no crescimento econômico de um país fundado no aumento das vendas de veículos automotivos. Não acredito que investir no pré-sal faça qualquer diferença para futuro da nossa nação. Espanta-me que o Brasil não tenha, até hoje, um modelo de desenvolvimento sustentável coerente. Espanta-me a falta de ciclistas em Brasília.

Entretanto – e apesar das dificuldades – quero valorizar as iniciativas que inauguram os novos tempos e parabenizar aqueles que procuram alternativas de transporte menos agressivas ao meio ambiente. De ônibus, metrô, de bike ou a pé, todos podemos contribuir. Algumas cidades implementaram ciclovias e o respeito ao ciclista tem aumentado graças ao número cada vez mais frequente de bikers na rua. Vamos invadir!

Devagar se vai ao longe
Eu gosto mesmo de andar a pé. No meu dia a dia, tenho esta possibilidade. Concentro minhas atividades num perímetro relativamente pequeno e quase nunca dependo de um carro para me locomover. Vocês podem dizer que sou privilegiada por morar perto do trabalho, dentro do trabalho às vezes, mas outros, como eu, também têm este privilégio e podem abrir mão do uso do carro. Então, por que não o fazem?

Para os menos sedentários, uma boa alternativa é a bicicleta que tem a cada dia mais adeptos. Vejo cada vez mais gente, principalmente os jovens, andando de bike, batalhando para ocupar o espaço público que é deles por direito: as ruas. Pesquise e perceba o aumento significativo de ciclistas no Brasil, mesmo na cidade de São Paulo cuja geografia poderia servir como empecílio, os ciclistas estão ganhando força.

De outro lado as empresas e escritórios facilitam a vida disponibilizando bicicletários e, quem sabe, um chuveiro para uma ducha rápida depois da pedalada e antes do serviço. Aposto que este funcionário estará bem mais disposto, por conta do exercício físico, e bem menos estressado, característica básica dos motoristas nas grandes cidades após alguns minutos no trânsito. É a iniciativa privada fazendo sua parte. E os órgãos públicos deveriam fazer o mesmo.

E assim o movimento vai crescendo e atingindo cada vez mais consciências. Vem a sensação de se unir por uma causa justa: por uma política pública que prestigie e invista em transporte coletivo; por mais incentivo nas pesquisas em combustíveis alternativos.

Quero ter o direito de andar a pé sem respirar as partículas geradas pelo veículo alheio, sentindo somente o perfume das damas da noite que invade a cidade neste início de primavera. Certamente se você estiver disposto a caminhar até a esquina vai perceber que até a próxima lua cheia o aroma adocicado das flores enebria a noite dos caminhantes. Experimente.

No dia 22 de setembro, dia mundial do carro na garagem, aproveite o percurso para pensar no assunto. Faça sua parte! Liberte-se e siga as placas para um futuro diferente.

P.S. Quem quiser aderir ao movimento e dar de presente um bicicletário pra São Paulo acesse o Yahoo! Social Bike e acompanhe o @social_bike, sem gastar combustível…