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quinta-feira, 12 de maio de 2011

O poder da elite maceioense

A elite maceioense está indignada com o preço que a gasolina tem sido vendida nos últimos dias nos postos da cidade. É raro encontrar um posto que ainda venda a gasolina abaixo de R$ 3,00, o que era comum há pelo menos um mês. Dentre os motivos apresentados pelos donos de postos está a alta carga tributária que incide sobre os combustíveis e o período de entressafra das usinas de açúcar do estado, já que há um percentual de álcool na composição da gasolina.





Apesar de Alagoas ser um estado conhecido pela monocultura da cana-de-açúcar, o preço do etanol já não compensava há bastante tempo, pois as usinas consideram mais lucrativo vender açúcar no mercado externo a produzir álcool para ser consumido no próprio estado.

Na semana passada, um protesto organizado por motoristas propunha passar, de posto em posto, em carreata pela cidade, abastecendo a quantia de R$ 0,50, pagando no cartão de crédito e exigindo nota fiscal, o que acreditavam trazer prejuízo ao dono do posto.





O protesto não teve resultados e a gasolina continua sendo vendida acima de R$ 3,00. Tal fato não incomoda aos usuários de ônibus, já que a tarifa dos coletivos continua a mesma, nem tampouco os usuários da bicicleta, já que seu combustível é outro.

Porém, a parcela da população que utiliza o carro como meio de transporte continua incomodada com o impacto que o aumento do preço da gasolina trará ao seu orçamento pessoal e resolveu agir. Já que o protesto foi inócuo, decidiram utilizar dos meios oficiais.

OAB, Ministério Público, Procon e vereadores de Maceió se reuniram na última quarta-feira (11) para buscar formas de “orientar o consumidor e ‘forçar’ os donos de postos a baixarem os preços”:





Esperávamos ver a mesma motivação que os órgãos demonstraram na reunião do dia 11, toda vez que fosse anunciado o aumento da tarifa do transporte coletivo. Até mesmo porque, por menor que seja o aumento na tarifa do ônibus, proporcionalmente, seu impacto será maior no bolso de alguém que ganha 1 salário mínimo do que é o impacto do preço da gasolina para alguém que ganha muitos salários mínimos.

Os vereadores e os demais órgãos não parecem estar preocupados com o efeito dominó que o aumento do preço da gasolina trará para a cidade, com a elevação dos custos de transporte de pessoas e mercadorias. Ao convidar o Procon para a reunião, demonstra-se que a preocupação está unicamente em defender o bolso daqueles que consomem gasolina.

A matança de ciclistas no trânsito e a inércia do caos no transporte coletivo de Maceió apenas comprovam que o poder público não age em função da coletividade, e sim da classe dominante que tem “voz” para exigir seus direitos, nem que seja a redução de R$ 0,10 no preço da gasolina.


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Fato semelhante ocorre na Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas, onde deputados discutem a instauração da “CPI da TIM”. Isso mesmo. Não pretendem discutir o problema de uma forma global: as telecomunicações no estado de Alagoas como um todo, avaliando se a privatização foi benéfica ou maléfica para a população. Discutirão a (in)operância de uma empresa em particular. Mesmo que saibamos que, com a privatização da telefonia móvel, o cliente tem a liberdade de migrar de uma operadora para outra quando não estiver satisfeito com o serviço, muitos deputados declararam, em seus pronunciamentos, que são clientes da empresa TIM. Ou seja, quando o usuário comum tem problema com sua empresa telefônica (seja Oi, Claro ou Vivo), vai para a fila do Procon. Quando o problema atinge a operadora que os deputados utilizam, instaura-se uma CPI.

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Vale lembrar que o aumento do preço da gasolina é uma tendência mundial, já que o petróleo é uma fonte de energia finita. Apesar dos Estados Unidos viverem em guerras para manter a estabilidade do preço e, apesar do ex-presidente Lula achar que seria o novo xeique, pelas descobertas de petróleo que o país fez na camada pré-sal, os países europeus têm buscado alternativas, como o investimento em transporte coletivo (que pode ser movido a eletricidade) e no uso da bicicleta (que é movida a feijão com arroz).

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Por fim, gostaríamos de ver os maceioenses engajados em protestos que busquem a melhoria da mobilidade para todos e não apenas cada um defendendo seu próprio interesse.



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