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quinta-feira, 18 de setembro de 2014

4º Desafio Intermodal de Maceió

  
Aconteceu, na manhã de hoje (18), a 4ª edição do Desafio Intermodal de Maceió - DIM. O evento consiste em percorrer um trajeto pré-definido (5,4 km), na hora do rush, utilizando diversos modais diferentes, para ser feita uma avaliação comparativa entre o tempo gasto por cada um, levando também em consideração a eficiência energética e a poluição emitida por cada modalidade de transporte.


Os participantes saíram da porta do Ibama, na Av. Fernandes Lima, às 7h30 e seguiram em direção à Praça dos Martírios, no bairro do Centro. Além das dez modalidades que participaram do DIM 2013, tivemos a inclusão do skate e da integração bicicleta+trem. No total, 21 voluntários participaram do desafio em 12 modalidades diferentes de transporte.


Assim como nas três últimas edições do DIM, a motocicleta foi a primeira colocada no quesito tempo, acompanhada da bicicleta que, utilizando a propulsão humana, chegou apenas 19 segundos depois do veículo motorizado de duas rodas. Se levarmos em consideração as despesas, a energia consumida e a poluição emitida, a bicicleta sagra-se campeã do desafio.


A grande surpresa do desafio foi o estreante skate, que ficou na terceira colocação, com um tempo de 17’47”, chegando antes mesmo do táxi, que fez o percurso em 18’06”. Por conta da Faixa Azul, ônibus e táxi tiveram um grande ganho de tempo em relação aos anos anteriores. O táxi teve uma redução de 43% do seu tempo e o ônibus de 34%, se compararmos com 2013, quando não havia Faixa Azul.


Mesmo com a Faixa Azul, quem não teve grande benefício foi a cadeirante, que teve uma redução de tempo de apenas 10% em relação a 2013 e foi a última a chegar à praça. Segundo a participante Maria Cícera da Rocha, nem todos os ônibus são adaptados com elevador para cadeira de rodas. E daqueles que são, quando ela deu sinal com a mão, os motoristas sinalizavam dizendo que o elevador estava com defeito ou que não estavam com a chave para operá-lo. Daí o motivo de ter levado quase o triplo do tempo da participante que seguiu em ônibus comum.

Já a participante que realizou a integração ônibus+trem, por pouco não perdeu o trem, por conta do tempo que ficou aguardando o ônibus no ponto da Av. Fernandes Lima. Para chegar à estação da CBTU em Bebedouro, a única linha de ônibus disponível é a Circular 2. Ela relatou que, assim que embarcou no trem, a porta se fechou. Ela só conseguiu pegar o trem das 8h08. Se perdesse esse, o próximo só passaria às 9h14. Foi a penúltima a chegar à praça, em 56’50”, ganhando apenas da cadeirante.


O mesmo problema não teve o participante que realizou a integração bicicleta+trem. Pedalando, chegou rapidamente à Estação Bebedouro. Foi recepcionado pela assessora de imprensa da CBTU e, enquanto esperava a chegada do trem das 7h48, ainda teve tempo de explicar aos passageiros que estavam na estação que o embarque da bicicleta se tratava apenas de uma experiência para a realização do Desafio Intermodal.


O trem fez o percurso de 4,3 km entre a Estação Bebedouro e a Estação Mercado relativamente rápido, gastando apenas 12 minutos, o que da uma velocidade média de 21,5 km/h, superior aos 13,6 km/h alcançados pelo ônibus que seguiu pela Fernandes Lima, se considerarmos o tempo que a participante permaneceu no ponto aguardando.


Como mostramos na edição de 2012 do DIM, quando a bicicleta foi impedida de acessar o trem, o vídeo promocional da CBTU que apresentava o projeto de modernização do trem de Maceió mostrava bicicletas penduradas no interior do vagão. Sugerimos, por e-mail, a inclusão da integração bicicleta+trem no DIM, que foi acatada pela empresa como experiência. Pela pouca frequência de horários (7h06 / 7h48 / 8h08 / 9h14) no rush da manhã, os trens seguem cheios, o que tornar-se-ia incômodo aos passageiros, caso a CBTU permitisse o acesso de bicicletas aos trens, ainda que do modelo dobrável, como a que foi utilizada pelo participante. Sugerimos à assessora de imprensa que a CBTU experimentasse instalar bicicletários nas estações, de modo que possa atrair passageiros de localidades mais distantes e/ou reduzir o tempo de deslocamento até a estação daqueles que já utilizam o trem atualmente.


Os participantes que fizeram o percurso a pé (caminhando e correndo), relataram que os principais problemas que encontraram foram os desníveis ou a inexistência de passeio público, além do desconhecimento dos motoristas ao artigo 38, parágrafo único, do Código de Trânsito Brasileiro – CTB, que determina que:

Art. 38. Antes de entrar à direita ou à esquerda, em outra via ou em lotes lindeiros, o condutor deverá:

Parágrafo único. Durante a manobra de mudança de direção, o condutor deverá ceder passagem aos pedestres e ciclistas, aos veículos que transitem em sentido contrário pela pista da via da qual vai sair, respeitadas as normas de preferência de passagem.


A cada rua transversal à Av. Fernandes Lima que atravessavam, corriam o risco de serem atropelados por carros que entravam ou saíam das ruas transversais sem ceder passagem a eles, como manda a lei.

O carro teve um incremento de tempo de 32%, em relação a 2013. Porém, não podemos atribuir esse aumento à implantação da Faixa Azul, que diminuiu a quantidade de faixas para automóveis de três para duas, pois o tempo do carro em 2014 foi semelhante ao de 2012: cerca de 38 minutos.


De todas as modalidades, os patins e o skate deram um show à parte. Assim como as bicicletas, os participantes tiveram que dividir espaço com os ônibus, táxis e demais veículos na Faixa Azul. Segundo os participantes, os motoristas de ônibus foram bem cuidadosos, apesar de alguns passarem muito próximos. Apenas um motorista de táxi se irritou com a presença dos veículos de propulsão humana na Faixa Azul. Ficou buzinando insistentemente na curva antes de chegar à Praça Centenário, irritado porque um micro-ônibus aguardava um espaço seguro para ultrapassar os participantes. Um pouco adiante, ameaçou o skatista com o carro, tentando derrubá-lo.

Um outro problema relatado pelos participantes do skate e dos patins foi relativo às ondulações presentes no asfalto, que se formam próximo aos pontos de ônibus, por conta do atrito dos pneus no momento da frenagem. Vale a pena assistir aos vídeos feitos pelos participantes do skate, dos patins e da motocicleta, ao longo de todo o percurso.

Com a realização dessa 4ª edição do DIM, podemos concluir que a implantação da Faixa Azul, que começou a funcionar em fevereiro de 2014, com um custo relativamente baixo (R$ 391 mil, segundo a Prefeitura de Maceió), trouxe um ganho de tempo muito grande para usuários de ônibus e táxis, sem oferecer aumento do tempo dos automóveis, se compararmos com os anos anteriores. Iniciativas como a da Faixa Azul precisam se espalhar por toda a cidade pois, de nada adianta o ônibus passar rapidamente pela Av. Fernandes Lima e ficar preso em congestionamentos no restante da cidade.

Pedestres e cadeirantes precisam de calçadas niveladas e acessíveis, que tenham a mesma atenção do poder público que tem o leito carroçável, capeado e recapeado a cada nova gestão municipal que assume. Para isso, há que se intensificar a fiscalização dos proprietários de lote que não constroem o passeio público de maneira adequada ou, quem sabe, adotar uma medida mais enérgica: transferir a responsabilidade da construção e manutenção dos passeios públicos do ente privado para o poder público, suprimindo o artigo 339 do Código de Edificações e Urbanismo de Maceió.

Ainda para as pessoas com deficiência, mostra-se necessário aumentar o percentual da frota de ônibus adaptados com elevador para a cadeira de rodas, punir as empresas que não estão com o elevador em funcionamento ou, quem sabe, fazer como a cidade de Curitiba, em que o elevador para acesso da cadeira de rodas fica na própria plataforma de embarque. Quando o ônibus para, os passageiros já estão no mesmo nível do ônibus e com a passagem já paga, o que reduz o tempo de embarque.

Quanto ao trem da Companhia Brasileira de Trens Urbanos - CBTU, compreende-se sua pequena oferta (quatro trens no período de duas horas) em razão da baixa densidade populacional residente no entorno da linha. Contudo, o DIM mostrou que ainda há muito a avançar na sua integração ao serviço de transporte por ônibus da cidade, bem como à bicicleta.

O ótimo desempenho dos veículos de propulsão humana no DIM demonstra que, caso o poder público municipal investisse em infraestrutura adequada para a utilização desses veículos, correriam menos risco de morte aqueles que já os utilizam no dia a dia e encorajaria as milhares de pessoas que desejam ir trabalhar de bicicleta, patins ou skate e não o fazem por medo dos veículos motorizados.


O Desafio Intermodal é realizado, em Maceió, pelos participantes da Bicicletada e compõe as atividades da Semana da Mobilidade, que antecede o Dia Mundial Sem Carro - DMSC, comemorado no dia 22 de setembro. Ano passado, o DMSC caiu num domingo e a Prefeitura de Maceió realizou um passeio ciclístico saindo do posto da Polícia Rodoviária Federal, no entroncamento das rodovias BR-104 e BR-316, com destino à Praça Centenário, onde fora iniciado o evento Lazer na Praça. A atividade casou bem com um dia de domingo.
 
Clique aqui para ver o vídeo

Contudo, nesse ano, o DMSC caiu numa segunda-feira e a Prefeitura, curiosamente, o antecipou para o domingo e programou um passeio ciclístico semelhante ao de 2013. A Prefeitura perde (ou foge de) uma grande oportunidade de discutir, numa segunda-feira, a Mobilidade Urbana pautada exclusivamente no automóvel. Em vez de propor alternativas aos cidadãos para se deslocarem na segunda-feira, diferentes do automóvel, como o transporte coletivo ou a criação de uma ciclovia temporária (com a utilização de cones), numa das faixas da Av. Fernandes Lima, por exemplo, a Prefeitura de Maceió continua tratando a bicicleta como um brinquedo de domingo e ignorando aqueles que a utilizam como meio de transporte, bastante eficiente, por sinal, como têm demonstrado consecutivamente as quatro edições do DIM.

Atitudes como essa ou como o horizonte de 62 a 170 anos traçado pela Prefeitura de Maceió para alcançar os padrões de Berlim ou Amsterdã, nessa ordem, no que diz respeito à infraestrutura destinada à bicicleta, demonstram o descompromisso da atual gestão municipal com a Mobilidade Urbana Sustentável. Como mostramos na postagem sobre a reunião que discutiu o orçamento municipal para o ano de 2015, é através das atitudes dos gestores (e não do seu discurso) que avaliamos com o que se está comprometido.

Mais importante do que aquilo que a Prefeitura diz é aquilo que ela não diz. Como diria o filósofo dinamarquês Søren Kierkegaard, “Não tomar uma decisão já é uma decisão. Não fazer uma escolha já é uma escolha."

Enquanto isso, em São Paulo...

- Desafio Intermodal 2014 terá participação do prefeito de SP

- Prefeito de São Paulo e secretário de Transportes irão ao trabalho de bicicleta no DMSC
   
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Veja também um resumo das edições anteriores: