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quarta-feira, 20 de agosto de 2014

Os skatistas estão crescendo na Orla de Maceió. Viva!


por Natália Souza - 20/08/2014

A Orla de Maceió é “a mais bonita do Brasil”, como bem enchemos a boca pra falar, mas tá virando a menos democrática.

O colega jornalista Ricardo Mota postou hoje em seu blog o texto “Os estúpidos dos skates estão crescendo no calçadão da orla de Maceió”, onde conta que viu um skatista aloprado em alta velocidade atropelando uma senhorinha que caminhava no mesmo local. Disse que isso vem acontecendo com frequência com idosos, jovens e crianças e comparou os skatistas a torcidas organizadas, hordas de bárbaros e brutamontes voadores.

Mota falou da falta de educação dos jovens de classe média que não contribuem por uma civilidade num local compartilhado. Ele deixa “claro” que “a crítica, está claro, não é aos praticantes do esporte, mas aos que se comportam dessa forma”.


Pois bem. Concordo que bom senso, educação e civilidade têm que existir em qualquer lugar. INCLUSIVE, deixo claro, que já vi exemplos de skatistas e gente de patins fazendo manobras agressivas entre as pessoas na Rua Fechada dia de domingo e não aprovo.

Mas, acredito que posts como o dele, que deveriam debater a AUSÊNCIA de espaço público destinado ao lazer e à prática de esportes dos jovens, crianças e adultos em Maceió, mas tiveram o efeito contrário, só incitaram a raiva da sociedade contra skatistas, longboarders (e qualquer um que ande numa prancha sobre 4 rodas), visto a maioria dos comentários no blog. Sério, tem comentários surreais mandando a prefeitura proibir de vez patins e skates na Orla e dizendo que os skatistas estão crescendo assustadoramente, como se isso fosse algo ruim, já pensou? (Alguns comentários se salvam com coerência por lá).

Outro dia, EU estava andando de longboard no calçadão da orla que estava LOTADA de jovens correndo, casais caminhando de mãos dadas, idosos que param pra conversar, turistas tirando foto, crianças etc. Como eu fiquei agoniada em ter que me desviar demais dos pedestres (e também notei a cara feia de uns), desci pra ciclovia e comecei a andar de long lá.

Nem deu 10 minutos e o primeiro ciclista que passou por mim me deu um grito desaforado dizendo que ali era uma CICLOVIA e que eu estava no lugar errado. Nos dois lugares eu não “era bem-vinda” e andar na pista no meio da rua eu não era doida de fazer.

E aí, qual o lugar do skatista e do patinador?

Os skatistas estão crescendo no calçadão da orla de Maceió, vamos debater o uso do espaço público?

Existe uma pista de skate e patins na Pajuçara, mas basta qualquer pessoa ir lá para ver as rachaduras e falta de condições do local. As praças (do skate) e outras nem se fala. Sem segurança, escuras, abandonadas e vulneráveis a assaltos. A outra pista voltada a skate e patins fica no Benedito Bentes, que particularmente, eu nunca fui e não sei em quais condições se encontram, mas tenho a direito de não querer ir tão longe para praticar uma atividade física que me dá prazer.

E mesmo que existissem locais perfeitos e isolados para essas categorias -projeto de revitalização da Praça do Skate tá aí sendo tocado, acredito que é um direito nosso de transitar na Orla. Vejo cidades como Aracaju, que tem um espaço grande na orla só para isso, e outras cidades que as pessoas compartilham o local, mas aqui, a sociedade (pelo menos o povo dos comentários do Ricardo Mota) pede que a SMCCU proíba skatistas e patinadores. Meio radical, não?

Falando novamente por mim, não me considero uma brutamontes, até pelo meu porte físico, nem uma integrante de torcida organizada de futebol que quero tomar a força o local, só quero poder usufruir do espaço a que tenho direito também. Como o skate é necessário uma certa velocidade para andar, e qualquer velocidade será alta em relação a um pedestre, acabamos passando essa sensação de estarmos “voando” em relação aos demais. Não é questão de agressividade.

Fiscalizar? Como? Estipular uma velocidade média? Baixar uma lei que agora os skatistas e patinadores DEVEM andar na ciclovia? (os ciclistas agora iam ter que aceitar isso). Enfim, a maioria dos comentários que li e pelo que entendi do post do colega (a quem vejo com frequência caminhando na orla), foi pedindo que o poder público interferisse de forma “repressora” aos skatistas, ainda não vi uma quantidade expressiva falando sobre esse debate da utilização do espaço público.

Pessoas, ainda mais jovens ociosos e sem espaço para a prática de esporte ou lazer, não podem resultar em nada positivo para o bem estar social, como diz a música do Titãs, “a gente não quer só comida, a gente quer comida diversão e arte”. Esse assunto merece muito ser debatido dessa forma, e o poder público sim, intervindo, mas apresentando solução para essa melhor convivência e não expulsando categoria x ou y do local, como sugerem os internautas.

Estúpidos estão aumentando em todo lugar com qualquer que seja o tipo de veículo utilizado. Lembrando que muitos pedestres e corredores amadores ou profissionais, vivem usando a ciclovia para correr, vejo isso também quando estou a pé, fazendo “cooper” por lá.

Por lei, os veículos de maior porte são sempre responsáveis pelos menores. Reforço que tem que haver responsabilidade no uso do espaço público, mas precisamos perder essa mania de achar que para garantir um direito nosso o do outro coleguinha tem que ser anulado.
Alguns dos comentários raivosos dos internautas no Blog do RM. Interessante a associação dos skatistas com drogados. Lamentável!

Alguns dos comentários raivosos dos internautas no Blog do RM. Interessante a associação dos skatistas com drogados. Lamentável!


Essa é a minha impressão. Impressão de alguém que anda de long/skate, que corre frequentemente e que anda de bike periodicamente. Qual a sua?


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Nota do blog

Todo esse debate é importante para mostrar que, mesmo na maior área de lazer da cidade, os carros dominam quase todo o espaço disponível, enquanto pedestres e usuários de veículos não motorizados precisam se espremer numa estreita faixa destinada a eles, algo que se torna impraticável principalmente no Verão, quando a cidade que se enche de turistas. Que tal diminuir o espaço dos carros e aumentar o das pessoas?