Recebemos por e-mail o relato de um ciclista de Maceió, que transcrevemos abaixo:
(O que está em amarelo são comentários do blog).
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Seguia pela Av. Senador Robert Kennedy (a orla de Ponta Verde), no sentido Centro, em direção à minha aula. De repente, percebo um barulho de motor muito próximo e constante (a audição costuma ser o sentido que mais uso, depois da visão, quando pedalo). Olho para trás e vejo uma viatura da SMTT muito próxima a mim, na faixa da direita (a mesma que eu ocupava).
Sinalizei com o braço para que ele me passasse e me preparei para dizer: “UM METRO E MEIO”, como forma de lembrar aquilo que os motoristas desconhecem: que eles devem se distanciar ao máximo das bicicletas ao ultrapassá-las. Eis que a viatura me passa e escuto: “VÁ PARA A CICLOVIA!”. Na mesma velocidade que me ultrapassaram, continuaram, só me dando tempo de retrucar: “A CICLOVIA É PARA LAZER!”.
Logo à frente, no Sete Coqueiros, o trânsito estava congestionado e lá estava a viatura da SMTT parada. Parei ao lado e iniciei o diálogo:
— Olha, não utilizo a ciclovia porque não estou passeando, estou me deslocando. Se você for à ciclovia, vai ver que está ocupada por pessoas caminhando, crianças brincando,… ...E eu, assim como todos os motoristas, tenho hora para chegar em minha aula e não posso ficar desviando de todos os obstáculos que vejo na ciclovia, além de considerá-la mais perigosa que o próprio trânsito.
— Mas se tem ciclovia, você tem que usar!
— Ok. Aqui na orla há uma ciclovia que é usada para lazer. E o que eu faço no resto da cidade, onde não há ciclovias?
— Não sei. Mas aqui você tem que usar a ciclovia.
Provavelmente essa é a instrução que ele recebeu do órgão e não é a função dele questioná-la, apenas cumpri-la.
A agente que estava no banco traseiro da viatura tenta amenizar a conversa:
— Tá bom, mas pelo menos ande pelo cantinho...
— Se você andasse de bicicleta, saberia que “andar espremido no canto” é a forma mais perigosa de conduzir uma bicicleta, respondi.
— Quem disse que eu não ando? Eu ando sim!
O ciclista demonstra ter conhecimento do que Willian Cruz trata em seu blog, que a forma mais segura de conduzir uma bicicleta é ocupando a faixa, e não se espremendo no canto da sarjeta.
Enquanto isso, o agente de trânsito que estava no banco dianteiro só fazia repetir:
— “Você está errado, você tem que andar na ciclovia!”, enquanto comia amendoim e jogava a casca pela janela do carro.
Vi que não adiantava mais conversar. Falei apenas:
— É por causa de pensamentos como o de vocês, que acham que a rua pertence ao carro e o ciclista tem que ser enxotado para a ciclovia é que acontecem situações como a de Porto Alegre. Vocês ainda não conseguem enxergar a bicicleta como um veículo. Uma boa tarde e um bom engarrafamento para vocês!
Segui pedalando e a viatura continuou lá, parada no congestionamento.
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Seria interessante nosso amigo também ter questionado sobre a existência de ciclovia na orla. Onde está a ciclovia? Onde está sinalizado que aquele pedaço de calçada rebaixada é uma ciclovia? Não existe nenhuma sinalização vertical ou horizontal (pintura no pavimento) informando que a parte rebaixada da calçada é ciclovia. Podem falar “mas o piso é pintado de vermelho”. Sim! E o restante da calçada também é vermelho. Em razão da ausência de sinalização é que esse pedaço de calçada rebaixada passou a ser utilizado livremente por pedestres, corredores, vendedores ambulantes, banquinhos do churrasquinho, passeio de cães na coleira, etc.
E o problema não é de hoje. Há quase dois anos, a TV Gazeta tratou do assunto:
E o problema não é de hoje. Há quase dois anos, a TV Gazeta tratou do assunto:
O próprio "pessoal" da SMCCU, citado na reportagem, costuma caminhar na ciclovia, como nós mesmos já flagramos:
Além do mais, na ciclovia, o ciclista não está tão seguro quanto se pensa...
2 comentários:
Esses agentes de trânsito da SMTT são muito engraçados. A leitura desse post me fez lembrar um fato ocorrido comigo no mês de janeiro do corrente ano. Eu estava dirigindo meu carro pela Rua do Sol, no Centro de Maceió. Uma viatura da SMTT seguia calmamente atrás do meu veículo. Um pouco a frente, avistei cerca de uma dezena de pessoas aguardando vez - raramente dada pelos motoristas - para atravessar na faixa de pedestres. Como um motorista consciente, reduzi a marcha, liguei o alerta do meu carro e parei, dando vez aos pedestres. Como o movimento de pedestres é grande no Centro, sempre que um terminava de atravessar, chegava outro. Eu estava disposto a só sair com meu carro quando não houvesse mais nenhum pedestre para atravessar. Para minha surpresa, a viatura da SMTT, que até então seguia calmamente atrás do meu carro, emite um sinal com sua sirene, indicando que eu seguisse adiante, mesmo sabendo que tinha pessoas querendo atravessar. Fico a me perguntar: não era para esses agentes de trânsito saberem de quem é a preferência? Será que eles acham que o trânsito é feito apenas de automóveis? Será que na opinião deles, pedestres e ciclistas têm que apenas aproveitar as pequenas brechas dadas pelos automóveis? Se essa viatura não tivesse meu carro a frente dela, teria dado preferência aos pedestres para que eles atravessassem a via? DUVIDO!!!
Excelente texto! É isso mesmo, vamos ocupar a faixa, que é nosso direito. Fiz isso essa semana, logo depois que li o texto do William Cruz. Parei de tentar pedalar pela "sarjeta", como ele diz. A diferença é vísivel. Passei a levar menos sustos, a impor minha presença, sem esquecer de usar o bom senso, afinal, o processo de conscientização ainda é lento. Mas vamos em frente!
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