* por Vivianny Galvão
Charles Chaplin certa vez disse que a multidão é um monstro sem cabeça. De fato, a anomia e o caos sempre desafiaram as aglutinações humanas. Sozinhos, talvez tenhamos a capacidade de exercer melhor nosso bom senso. Alheios às influencias externas, as quais nem sempre praticam o melhor juízo, talvez sejamos mais sensatos. Provavelmente porque, em meio às massas, não se sabe bem ao certo de onde podem surgir as palavras de (des)ordem.
Confesso que esta era uma impressão “absoluta” que tinha. Isso até reencontrar uma amiga de infância. Ah... estou segura de que Chaplin repensaria essa afirmação se tivesse tido a chance de andar de bicicleta comigo nesses últimos tempos. Ele perceberia a existência de outro tipo de massa. As bicicletadas representam movimentos de massa crítica (critical mass). A primeira vez que ouvi essa expressão (((massa crítica))) fiquei simplesmente extasiada. Lamentei não tê-la ouvido antes (((Chaplin também lamentaria))). Foi como uma espécie de solstício – esperado e mágico. E é iluminada por esses raios que direi como vejo o movimento.
Nem preciso revelar que estou encantada e não é sem razão que elegi a palavra “ode” para encabeçar o texto (((por isso, nem penso em pedir perdão ao caro leitor pelos possíveis excessos de entusiasmo))).
Até então, as palavras massa e crítica nunca haviam se encontrado no meu mundo, mas logo na primeira vez que saí para pedalar senti um algo diferente naquele tipo de agrupamento.
Os que pedalam há mais tempo organizam-se dentro do grupo. Têm os que puxam, lideram o caminho e escolhem as rotas. Há também os que resguardam a segurança dos últimos. Em comum, são todos habilidosos e solícitos.
O mais interessante é que cada um segue no seu ritmo, mas ao mesmo tempo todos estão juntos em uma cadência harmoniosa. Eis aí a mágica. Bom... isso é físico. Enxergar a massa em vários ciclistas pedalando juntos não é difícil, mas onde está o senso que diferencia essa massa do monstro percebido por Chaplin?
A diferença dessa espécie de agrupamento está na reivindicação de espaços urbanos mais dignos, no fortalecimento de uma consciência ambiental, na possibilidade de oferecer alternativas aos meios de transporte que ocupam o cenário cotidiano, na chance de alcançar uma qualidade de vida etc. É uma massa solidária movida por propulsão humana e pelos mais diversos desejos (((mesmo diante das múltiplas necessidades que nos colocam ladeados, o cuidado com o outro atua como elemento aglutinador))). Para os que começaram agora, a evolução consiste em acumular habilidade para ser cada vez mais gentil. Conseguir um bom equilíbrio para poder guiar a bicicleta com uma mão e agradecer aos motoristas que dão passagem com a outra. Sinalizar os obstáculos para os companheiros e manter a integridade física do grupo, além da sua própria.
A verdade é que voltamos a ser os bons selvagens de Rousseau. Somos humanos modernos, desejo com isso dizer, bons por natureza, porém críticos com o espaço ao redor. Por isso, devo alertar que este não é um texto para os ciclistas. É uma ode à sociedade civil organizada (((crítica))) que contribui para o sensível aumento da solidariedade entre as pessoas e entre elas e o meio ambiente.
Eu já sabia que andar de bicicleta faria bem para o meu coração, o que eu não sabia era das vantagens coletivas de ter um coração de bicicleteiro (((dou os créditos para esse belo neologismo do Alexandre))).
Então abaixo os pilares dos que se denominam pós-modernos, descrentes nos movimentos de organização social, eu quero mesmo é ser uma boa selvagem. Eu quero a cada subida sentir pulsar mais forte meu coração de bicicleteira e ter a exata noção de que minha evolução consiste em conseguir tomar conta de mim e dos outros que pedalam nessa trilha comigo.
Charles Chaplin certa vez disse que a multidão é um monstro sem cabeça. De fato, a anomia e o caos sempre desafiaram as aglutinações humanas. Sozinhos, talvez tenhamos a capacidade de exercer melhor nosso bom senso. Alheios às influencias externas, as quais nem sempre praticam o melhor juízo, talvez sejamos mais sensatos. Provavelmente porque, em meio às massas, não se sabe bem ao certo de onde podem surgir as palavras de (des)ordem.
Confesso que esta era uma impressão “absoluta” que tinha. Isso até reencontrar uma amiga de infância. Ah... estou segura de que Chaplin repensaria essa afirmação se tivesse tido a chance de andar de bicicleta comigo nesses últimos tempos. Ele perceberia a existência de outro tipo de massa. As bicicletadas representam movimentos de massa crítica (critical mass). A primeira vez que ouvi essa expressão (((massa crítica))) fiquei simplesmente extasiada. Lamentei não tê-la ouvido antes (((Chaplin também lamentaria))). Foi como uma espécie de solstício – esperado e mágico. E é iluminada por esses raios que direi como vejo o movimento.
Nem preciso revelar que estou encantada e não é sem razão que elegi a palavra “ode” para encabeçar o texto (((por isso, nem penso em pedir perdão ao caro leitor pelos possíveis excessos de entusiasmo))).
Até então, as palavras massa e crítica nunca haviam se encontrado no meu mundo, mas logo na primeira vez que saí para pedalar senti um algo diferente naquele tipo de agrupamento.
Os que pedalam há mais tempo organizam-se dentro do grupo. Têm os que puxam, lideram o caminho e escolhem as rotas. Há também os que resguardam a segurança dos últimos. Em comum, são todos habilidosos e solícitos.
O mais interessante é que cada um segue no seu ritmo, mas ao mesmo tempo todos estão juntos em uma cadência harmoniosa. Eis aí a mágica. Bom... isso é físico. Enxergar a massa em vários ciclistas pedalando juntos não é difícil, mas onde está o senso que diferencia essa massa do monstro percebido por Chaplin?
A diferença dessa espécie de agrupamento está na reivindicação de espaços urbanos mais dignos, no fortalecimento de uma consciência ambiental, na possibilidade de oferecer alternativas aos meios de transporte que ocupam o cenário cotidiano, na chance de alcançar uma qualidade de vida etc. É uma massa solidária movida por propulsão humana e pelos mais diversos desejos (((mesmo diante das múltiplas necessidades que nos colocam ladeados, o cuidado com o outro atua como elemento aglutinador))). Para os que começaram agora, a evolução consiste em acumular habilidade para ser cada vez mais gentil. Conseguir um bom equilíbrio para poder guiar a bicicleta com uma mão e agradecer aos motoristas que dão passagem com a outra. Sinalizar os obstáculos para os companheiros e manter a integridade física do grupo, além da sua própria.
A verdade é que voltamos a ser os bons selvagens de Rousseau. Somos humanos modernos, desejo com isso dizer, bons por natureza, porém críticos com o espaço ao redor. Por isso, devo alertar que este não é um texto para os ciclistas. É uma ode à sociedade civil organizada (((crítica))) que contribui para o sensível aumento da solidariedade entre as pessoas e entre elas e o meio ambiente.
Eu já sabia que andar de bicicleta faria bem para o meu coração, o que eu não sabia era das vantagens coletivas de ter um coração de bicicleteiro (((dou os créditos para esse belo neologismo do Alexandre))).
Então abaixo os pilares dos que se denominam pós-modernos, descrentes nos movimentos de organização social, eu quero mesmo é ser uma boa selvagem. Eu quero a cada subida sentir pulsar mais forte meu coração de bicicleteira e ter a exata noção de que minha evolução consiste em conseguir tomar conta de mim e dos outros que pedalam nessa trilha comigo.
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