Nas últimas duas postagens, apresentamos os prejuízos que os automóveis provocam à relação das crianças com o ambiente urbano, privando-as de áreas de lazer e do simples ato de se deslocar com segurança pelas ruas. No dia 13/10/2010, um dia após o Dia das Crianças, passando pelo bairro do Poço, nos deparamos com a seguinte cena:
Tamanha foi a surpresa que decidimos registrar o momento e trazer para o blog. A escola Luz do Saber realizava sua festinha de Dia das Crianças e, para garantir a segurança dos pequenos, enviou ofício à SMTT pedindo que fechassem o trânsito de automóveis na rua.
Uma viatura numa extremidade e alguns cones na outra interditaram o trânsito (de automóveis) na rua Bezerra de Menezes, permitindo que as crianças pudessem brincar com tranquilidade. Pedestres e ciclistas estavam livres para passar pela rua. Ninguém foi privado do tal “direito de ir e vir”, tão reivindicado por motoristas que ficam presos em congestionamentos sempre que há algum protesto na cidade.
Em vez do barulho de motores e buzinas, em vez de fumaça e perigo, apenas crianças correndo livremente e pulando numa cama elástica. Nenhum motorista estressado, apenas alegria, muita alegria!
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Em outro local da cidade, no bairro do Centro, a Prefeitura de Maceió tem realizado algumas intervenções, como: a troca do piso dos calçadões, a construção de faixa de pedestre elevada (no cruzamento da rua Cincinato Pinto com o calçadão da rua Moreira Lima), entre outras.
Apesar de sentirmos falta de árvores nas novas intervenções dos calçadões do Centro, uma obra merece destaque: a travessa Dias Cabral foi fechada ao trânsito de automóveis, transformando-se num imenso calçadão conjugado à praça Marechal Deodoro.
O espaço que parecia ocioso já ganhou uso. Por duas semanas, o calçadão foi utilizado para sediar o 3º Festival das Flores, com flores e plantas da cidade de Holambra-SP.
Até o ano passado, a travessa Dias Cabral funcionava como estacionamento privativo dos funcionários do Tribunal de Justiça. Dizemos “privativo” porque, apesar de ser uma área pública e haver uma placa proibindo o estacionamento, um policial militar era designado para permanecer durante todo o dia e impedir que qualquer motorista estacionasse seu carro no local, caso não trabalhasse no Tribunal.
Após a construção da nova sede do Tribunal, com um estacionamento próprio, a rua pôde ser liberada ao convívio dos seres humanos e a atividades que os atraem, como a feira de flores.
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E por falar em flores...
A Holanda, o país das flores (e origem da imigração da cidade de Holambra-SP), e seus vizinhos Alemanha, Dinamarca, Suécia, entre outros, já perceberam os prejuízos que os automóveis causam ao convívio urbano e têm buscado restringir cada vez mais o uso do carro, principalmente nas áreas centrais.
O urbanista dinamarquês Jan Gehl, em parceria com Lars Gemzøe, produziu o livro “Novos espaços urbanos”, onde apresenta as transformações por que passaram 9 cidades (selecionadas para o livro) com o intuito de renovar seus espaços públicos, entendendo-os como o lugar de encontro da cidade. O livro inicia da seguinte forma:
“Um dia de sol em Copenhague, em pleno ano 2000. O centro da cidade, antes dominado por carros, mudou completamente seu caráter. Becos sossegados, ruas exclusivas ou preferenciais para pedestres formam uma extensa malha de vias de passeio confortáveis. A cidade atualmente convida ao tráfego de pedestres. Os dezoito quarteirões do centro foram liberados dos estacionamentos e devolvidos ao público para atividades recreativas. Eles também convidam as pessoas a entrarem e passarem um tempo, e a engajarem-se em uma atividade pública que necessite espaço. [...] As crianças brincam, os jovens patinam e divertem-se em skate, enquanto músicos de rua, artistas e diversos tipos de animadores atraem multidões às praças. A vida nas ruas revela-se como um cortejo colorido e variado, neste dia de verão. Um traço comum é o caráter recreativo das atividades que se desenvolvem. Outro é a sua qualidade social. Os novos espaços urbanos liberados do carro são usados para uma forma urbana de recreação social, uma forma especial, na qual a oportunidade de ver, encontrar e interagir com outras pessoas é uma atração importante. [...]”
“Espaços públicos, vida pública” é uma outra obra dos autores que foca exclusivamente na cidade de Copenhague, capital da Dinamarca. Mostram as transformações pelas quais a cidade passou nos últimos 30-40 anos, restringindo o uso do automóvel e oferecendo espaços convidativos aos pedestres e ciclistas, buscando a humanização da cidade.
O conceito aplicado em Copenhague se espalhou pelo mundo através da expressão “copenhaguizar”. O termo é utilizado quando qualquer cidade segue os preceitos adotados pela capital dinamarquesa, focando os espaços públicos não mais em veículos, mas nas pessoas.
Essa nova maneira de pensar a cidade teve início, nos países europeus, em fins da década de 1960 e início da década de 1970, quando iniciaram os debates acerca de ecodesenvolvimento, proposto por Maurice Strong e Ignacy Sachs, através da Conferência de Estocolmo, em 1972 e com a crise mundial do pertóleo de 1973.
Enquanto os países europeus buscavam formas mais “limpas” de transporte e um planejamento urbano mais racional, os Estados Unidos faziam suas guerras para continuar alimentando a sede de petróleo de seus automóveis. Nós, brasileiros, achamos no álcool uma solução para manter o crescimento da frota de automóveis, através do Pró-Álcool
Hoje, o grande debate acerca do Pré-sal está muito mais preocupado com a partilha dos royalties de sua exploração do que com o bem-estar dos brasileiros. Será que continuamos errando como fizemos com o Pró-Álcool?
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