Queime caloria em vez de gasolina
por Thiago Guimarães
por Thiago Guimarães
O chefe de redação da revista Fairkehr, publicada pela associação nacional de ciclistas da Alemanha (ADFC), enfim me convenceu. O aumento da participação da bicicleta e a redução do uso do automóvel nas viagens cotidianas não será conquistado na base dos argumentos costumeiramente usados por políticos, ambientalistas e urbanistas. Não vale a pena gastar saliva falando sobre os malefícios do automóvel à saúde pública, não se importe demais com os congestionamentos e, com todo respeito aos ursos polares, que se dane o aquecimento global... Para fazer alguém largar o carro para subir na bicicleta, diga e repita que pedalar é um jeito prazeroso e agradável de ganhar um corpinho sarado. Esse é o discurso que pega.
Ou pelo menos esse é o aprendizado obtido com uma pesquisa encomendada pela ADFC que tinha o objetivo de identificar os grupos sociais potencialmente dispostos a andar de bicicleta na Alemanha. Além dos mais conscientes, também poderiam mudar o hábito de mobilidade a parcela da sociedade mais ligada à cultura e os “baladeiros”... A essas parcelas da população que a mensagem dos ciclistas deve chegar. Por isso, deve-se partir para mensagens como Queime caloria em vez de gasolina! Ou então: Ligue a cabeça, desligue o motor!
Aliás, esse último foi o título de uma inédita campanha pró-ciclismo e pró-pedestrianismo, iniciada no ano passado com o apoio do governo federal. Focada em motoristas que realizam curtos trajetos, a campanha incluía até o sorteio de uma bicicleta entre os participantes. Em consequência da campanha, 60 milhões de quilômetros dirigidos de automóvel e 13 mil toneladas de CO2 foram poupados em quatro cidades alemãs, no intervalo de alguns breves meses.
No Brasil – vice-campeão mundial no número de cirurgias plásticas e destino do turismo médico para operações de embelezamento – o slogan "Queime caloria em vez de gasolina!" não poderia cair melhor. Os mais convencidos sobre os benefícios de andar de bicicleta ou de andar a pé deveriam aprender a lição. Para ser efetivo, o cicloativismo politicamente engajado que alveja o automóvel em discurso uníssono deve entrar na onda da malhação, largar um pouco a essência e voltar-se às aparências, entrar na moda. A mobilidade sustentável no Brasil parece ter um potencial muito maior através das lentes da vaidade e da ditadura da beleza do que por um civilizado debate sobre os atuais problemas do transporte que atormentam nossas cidades.
Fonte: Pra lá e pra cá, acessado em 09/09/2010.
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